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Novo estudo destaca a promoção da diversidade de aves em plantios florestais

Nesta edição do PROMAB News, vamos destacar o artigo “Promoting Bird Functional Diversity on Landscapes with a Matrix of Planted Eucalyptus spp. in the Atlantic Forest”. De autoria de Renata Melo e membros do laboratório de Hidrologia Florestal, o artigo avalia como a composição e a configuração da paisagem em áreas com plantios florestais influenciam a diversidade de aves na Mata Atlântica.

O planejamento do uso do solo em áreas de plantios florestais é a chave para estabelecer paisagens que forneçam serviços ecossistêmicos, tanto para a sustentabilidade da produção como água, biodiversidade e outros serviços. No Brasil, destaca-se que quase metade das plantações florestais são certificadas pela norma FSC, na qual são exigidos indicadores que comprovem que as práticas silviculturais não estão afetando negativamente a fauna e a flora da região.

As aves são um grupo da fauna frequentemente utilizadas em estudos ecológicos devido à sua rápida resposta às mudanças na paisagem. Neste estudo investigou-se como a composição e configuração espacial em áreas de plantações florestais podem afetar a diversidade de aves. A pesquisa foi conduzida em regiões do centro-norte do Espírito Santo (Figura 1), estado que abrange mais de 220 mil hectares de plantações florestais. Nessas áreas, as plantações florestais estão amplamente distribuídas, formando grandes extensões que se tornam a matriz da paisagem.

Figura 1. Amostragem de paisagens localizadas no estado do Espírito Santo, Brasil, em áreas de matriz composta por Eucalyptus spp. florestas (esquerda). Uso da terra nas paisagens amostrais e localização dos levantamentos de aves (à direita). Fonte: Remanescentes de Mata Atlântica – SOS Mata Atlântica 2013/2014; Floresta Plantada – Coleção MapBiomas 5.

O estudo utilizou indicadores de paisagem já consolidados para caracterizar a matriz de plantios de eucalipto: diversidade de clones; idade da floresta e proporção ocupada, e também a vegetação nativa: proporção de área nuclear; diversidade de tipos de vegetação; potencial de conservação da biodiversidade; densidade de borda e proximidade de outros fragmentos. Para caracterizar a comunidade de aves, foram utilizadas amostragens de monitoramento na área da empresa avaliada, considerando quatro características para descrever funcionalmente as espécies de aves: dieta, a posição vertical do estrato florestal, o tipo de habitat e a massa corporal média das espécies.

Os resultados mostraram a importância do sub-bosque para a manutenção da diversidade de espécies nos fragmentos de floresta nativa, reflexo de seu estágio de conservação. Além disso, a proporção de área core (áreas sem efeitos de borda) se destacou para o aumento de espécies sensíveis a distúrbios, enquanto a proximidade da vegetação nativa foi importante para espécies generalistas por permitir movimento na paisagem. Em relação aos plantios florestais, a idade, proporção e a escolha dos clones, tem efeitos significativos na diversidade de aves em áreas de conservação dentro da matriz florestal. A homogeneidade das paisagens dominadas por plantações florestais resultou em uma redução na divergência funcional da comunidade de aves. A abundância de espécies foi menor em áreas com maior uniformidade de clones, já que essa característica gerou uma distribuição mais homogênea de habitats.

Embora sejam conhecidos os efeitos da condição da vegetação nativa sobre a composição das aves, pouco se sabia sobre o efeito específico do manejo das florestas plantadas, destacando a relevância das decisões econômicas que moldam o uso do solo e suas consequências para a biodiversidade.

Por outro lado, a complexidade da paisagem, influenciada por fatores naturais e pela diversidade e configuração das plantações florestais, pode afetar a composição das espécies de aves, destacando a importância do planejamento adequado das florestas plantadas para promover a biodiversidade. Uma abordagem eficaz envolve a implementação de práticas de manejo em mosaico de idades e com diferentes clones. Além disso, considerar as características naturais da área, como a vegetação presente em margens de rios, pode criar corredores que conectem remanescentes isolados e melhoram a permeabilidade da matriz, além de aumentar a porcentagem de vegetação nativa na paisagem.

Além dos benefícios para a diversidade, essas estratégias também melhoram outras funções ecossistêmicas no ambiente, como as relacionadas à água. Um ambiente mais heterogêneo gera paisagens mais resilientes e minimiza os efeitos da produção em larga escala. Desta forma, os resultados deste estudo confirmam o que é observado no monitoramento do PROMAB em relação à água. Neste caso, áreas com maior diversidade de plantios (idade ou clone) e maiores proporções de vegetação nativa apresentam melhor distribuição do uso da água, melhor regulação dos fluxos e estão menos susceptíveis a conflitos com outros usuários e efeitos climáticos atípicos.

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